Sigmund
Freud foi um psiquiatra e neurologista austríaco que descobriu que além do
corpo havia algo a mais que determinava a nossa vida: o psiquismo. Estudou-o e
descobriu o inconsciente e deu a ele um caráter científico. Com essas
descobertas desenvolveu a teoria da mente e do comportamento humano, que muitos
seguem até hoje. Por isso, foi considerado o “Pai da Psicanálise”. Para
Freud, tudo o que fazemos estava ligado a uma questão sexual, uma força que ele
chamou de “libido”. E o que ele disse sobre a homossexualidade?
Freud
achava que discutir sobre as causas da homossexualidade era semelhante a se
questionar as causas da heterossexualidade. Dizia que o interesse exclusivo de
um homem por uma mulher era uma questão que precisava de esclarecimento que não
havia nada que comprovasse que esse interesse estivesse baseado apenas numa
atração com base química.
Freud
argumentava que as críticas à homossexualidade baseada na premissa de que não
tem finalidade reprodutiva, não levava em conta os inúmeros casos em que os
próprios heteros praticam e que não possuem finalidade reprodutiva, como por
exemplo, uso dos métodos anticonceptivos, o sexo após a menopausa, o sexo fora
do período fértil, o sexo com parceiros inférteis, o sexo oral ou o anal, a
masturbação etc. Para ele, o sexo é um instinto. Incorreto e incoerente seria
afirmar que os instintos teriam um objetivo. No caso, o instinto sexual seria a
obtenção do prazer e não a reprodução.
Outro
ponto que gera discussão é um trecho da teoria freudiana que trata do “Complexo
de Édipo”. Para ilustrar e se fazer entender nesse acontecimento, Freud se
valeu deste mito grego:
“Laio era um homem feito e rei de uma
localidade, que se apaixona por Jocasta, nos primeiros anos da adolescência. Casam-se
e pouco depois, nasce Édipo. A localidade onde vivem está em guerra e para
preservar a vida do filho ainda bebê, Laio o manda para longe. O tempo passa e
a criança cresce sem conhecer o pai e a mãe biológicos. Édipo é agora um rapaz forte
e belo, que viaja pela Grécia. Numa das estradas, encontra outro viajante. Eles
entram em discussão por questões políticas, brigam e Édipo acaba matando-o. Ao
chegar na cidade, Édipo conhece Jocasta, já mulher feita, mas ainda jovem e
bonita. Apesar de ser bem mais velha que Édipo, ele se apaixona por ela e ambos
firmam um romance. Numa conversa entre eles, Édipo descobre que o viajante que
matou era seu pai biológico”.
Segundo
essa teoria, todas as crianças (dos 4 aos 6 anos) passam por esta fase, e se
ligam ao progenitor do sexo oposto. Não para ter com ele uma relação sexual,
mas para comparar e se descobrir como pessoa. E para isso, passa a copiar os
trejeitos e comportamentos do progenitor do seu sexo. É assim que, segundo essa
teoria, as meninas aprendem os comportamentos femininos e os meninos, os
comportamentos masculinos. Aprendidos esses comportamentos se afastam novamente
dos progenitores.
O
mito de Édipo e a realidade tem sentidos diferentes. Mas, como para Freud a
libido tinha uma conotação sexual, as pessoas traduziram suas obras, a
interpretavam e continuam interpretando do jeito que querem ou entendem. Em
muitas traduções aparece a palavra “apaixonar” em vez de “encantar”.
Assim,
com pais ausentes e mães super-presentes, as pessoas passaram a achar que o
homossexualismo poderia surgir daí. Mas, nos dias de hoje, quantos pais (viúvos
ou separados) não assumem a educação de suas filhas? E quantas mães (em igual
situação) não assumem sozinhas a educação de seus filhos? Se fosse uma regra,
as filhas seriam lésbicas e o filhos, seriam gays? E isto acontece? Não, porque
a figura feminina ou masculina, pode ser substituída por outra pessoa (avó,
tia, irmã mais velha, uma amiga ou madrasta e vice-versa).
Por
outro lado, alguns grupos contrários ao homossexualismo citam o Complexo de
Édipo como se fosse algo pecaminoso, como uma doença ou coisa parecida.
Freud
escreveu e publicou inúmeros livros numa época em que a cultura mundial era
conservadora e tacanha. Mas nunca afirmou que o homossexualismo era pecado ou
doença. Ao contrário, sempre defendeu a homossexualidade como algo natural e
que eles não deveriam ser tratados como doentes.
Um
outro ponto que os grupo combatentes ao homossexualismo se apegam é quanto ao
“sexualismo desviante”, também parte da teoria freudiana. Segundo Freud, este é
um problema ligado ao como o imaginário cultural do ocidente lida com a
sexualidade, definindo o que para determinada cultura é normal ou doentio. Como
a imaginário ocidental segue os preceitos judaico-cristão, tudo o que foge dos
padrões desse preceito é “doentio”.
Muito
se tem discutido, analisado e avaliado cada ponto dessa teoria. Menos um: o das
ideias de Freud sobre a homossexualidade. Estamos no século XXI, e vemos tudo
evoluir. Mas o imaginário ocidental continua o mesmo. Como nos livrarmos dele
para mudarmos para outro mais evoluído. Mais positivo e mais real?
Em
1920, Freud assume uma posição muito clara em relação ao homossexualismo e
declara que não é função da Psicanalise acabar com a homossexualidade. O máximo
que pode fazer é tentar explicar seus mecanismos. Para Freud, os mecanismos
psíquicos nos direcionam para a escolha de um objeto amoroso por caminhos
formados por disposições pulsionais e que isto funciona para todo mundo e em
todos os sentidos.
Freud,
em seus últimos livros revoluciona sua própria teoria e nos traz um novo
conceito: o da psicossexualidade. Ele afirma que a pulsão sexual não tem um
objetivo fixo como no instinto sexual dos animais. Ao contrário é anárquico,
diversificado, e singular e plural ao mesmo tempo, e tem o poder de se
manifestar de inúmeras formas e por inúmeras vias. Freud desvincula a
sexualidade dos órgãos genitais afirmando que a sexualidade vai além desses
órgãos.
Com
essa afirmação Freud dá a sexualidade uma amplidão maior. Principalmente,
quando afirma que o prazer é sua função principal e que a reprodução é uma
função secundária. E na medida em que ele afirma que as pulsões integram nosso
psiquismo, o conceito do que é normal ou anormal deixa de existir. O termo
“amor” ligado aos impulsos sexuais afetuosos e amistosos é quem determinam a
escolha do objeto sexual.
Para
Freud, a homossexualidade não pode causar estranheza ou vergonha. Não é vício,
nem condição degradante, nem pode ser catalogada como doença. A
homossexualidade, segundo Freud, nada mais é do que uma variação da função
sexual.
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