Nossa
sociedade convive há séculos com muitos preconceitos. E existem vários tipos:
raciais ou étnicos, religiosos, econômicos, culturais, sexual, dentre tantos
outros. Nenhum tipo de preconceito é bom.
As
ciências nos dizem que ninguém nasce preconceituoso, assim como ninguém nasce
mau. E podemos observar essa afirmação na prática quando observamos as crianças
pequenas tratarem com respeito, carinho, solidariedade e, muitas vezes, com a admiração
pelo amigo negro, pobre, estrangeiro ou deficiente.
O
preconceito é algo que se aprende. Vem do exemplo dos adultos e imitados pelas
crianças nos primeiros seis anos de vida. Vejamos algumas situações fictícias,
mas vistas por aí nesse mundão de Meu Deus.
João
sempre brincava com Tião, um negrinho retinto, educado, esperto e muito falante.
João era mais tímido, pouco falante e pouco esperto devido aos cuidados
excessivos que recebia dos pais. João admirava as qualidades de Tião. Um dia, o
avô de João veio visitar a família e viu os dois garotos brincando
animadamente. Num momento a sós, o avô colocou João ao colo e disse: “Filho, evite brincar com esse garoto. Ele
pode querer roubar seus brinquedos”. João ouviu atentamente, mas não
entendeu aquela conversa. Mas uma coisa ficou martelando em sua cabecinha: “roubar os brinquedos”.
Pedro
estudava numa escola inclusiva e sempre ajudava um amigo deficiente
intelectual. Pedro falava muito sobre o amigo em casa e a família estimulava a
amizade. Porém, ser deficiente era, para o pequeno Pedro, um detalhe tão
insignificante que esquecia de comentar. Numa reunião escolar em que a mãe de
Pedro compareceu, conheceu o tal amigo. E ficou muito chocada. Ao chegarem em
casa teve uma longa conversa com o filho e terminou dizendo que Pedro deveria
se afastar do amigo para não pegar a
doença dele.
Joana
tinha uma amiga asiática. A amiga viera numa leva de imigração e tinha costumes
bem diferentes dos de Joana. Um dia, Joana a convidou para brincarem em sua
casa. Após a brincadeira, a família desfiou um rosário de argumentos sobre as
diferenças culturais, sociais e religiosas que justificavam, segundo eles, o
afastamento de ambas.
Mesmo
sem compreenderem os motivos pelos quais deveriam se afastar dos amigos, o
afastamento aconteceu porque eram crianças obedientes. Sentiram saudades e
falta dos amigos é claro. Mas obedeceram. Mas algumas expressões ditas nas
conversas com os pais, martelavam suas cabecinhas. Não queriam ser roubados,
nem ficar doentes, nem criar problemas. E sentem medo.um medo muito forte.
Crianças
pequenas vivem num mundo diferente do mundo adulto. Num mundo onde as fantasias
são mais importantes que a realidade. E para consolar a perda da amizade,
inventavam coisas horrorosas sobre os amigos. O medo aumenta e incomoda.
Embora
sejam crianças pequenas e ainda não saibam expressar coisas que sentem com
facilidade, não são bobas. Ao contrário, são muito mais observadores e nesse
quesito, batem de longe os adultos. As atitudes dos adultos são o alvo das
observações infantis. Se ouvem os adultos xingarem, esbravejarem, resmungarem
os imitam. E pais preconceituosos são exímios nessa ação. E se os adultos
podem, elas não podem também.
A
imitação é outra maneira de aprender no mundo infantil. E em pouco tempo, estão
xingando, gritando, esbravejando e ofendendo os amiguinhos. E quando o amigo
chora, recua ou fica triste, um sentimento de poder se apodera do agressor
verbal.
O
tempo passou e todos cresceram. João, Pedro e Joana são agora pré-adolescentes.
Época de viver em grupo. E cada grupo sempre tem alguém que lidera os demais.
Os personagens de nossa história lideram seus grupos. Mas, não são líderes
positivos. Vivem promovendo confusões e arrumando brigas. O desrespeito verbal
para com os colegas é sempre o ápice de qualquer confusão. E o grupo os apoia.
O
apoio do grupo reforça a sensação de prazer em humilhar os outros. Por isso,
todos os dias escolhem um para receber suas ofensas e brincadeiras de mau
gosto. A humilhação do outro é sempre uma fonte de prazer e aplaca o medo que
sentem desde pequenos. Mas o prazer é passageiro e logo, o medo volta a
incomodar.
Toda
liderança positiva ou negativa tem uma forte relação com o poder. Mais ainda se a liderança é negativa.
Sentir-se poderoso sobre o outro torna-se um recurso para diminuir o medo que
tanto os incomoda. Por isso, se auto intitulam os “bam-bam-bans” do grupo. Sua
palavra é lei. Subjugar os próprios companheiros às suas ordens é outra fonte
de prazer. E o grupo se transformam em verdadeiras gangs.
Com
o tempo, as ofensas verbais perdem o interesse e já não funcionam tão bem
quanto antes. É preciso algo a mais para que o líder mantenha o seu status de
valentão e continue sendo respeitado pelos outros membros. E se transformam em
agressões físicas como forma de subjugar um desafeto.
O
prazer em ver o outro caído e machucado é mais forte e o líder ganha mais
prestígio. Agora, os comentários atuam como reforço. Mas também são passageiros
e o medo que continua incomodando se transforma em ódio. A cor da pele, a
nacionalidade, as diferenças físicas, a inteligência ou a falta dela, o sucesso
ou a popularidade do outro soam como ameaça velada e implacável, que precisa
ser destruída a todo custo. E os requintes de perversidade começam a aparecer.
Por isso, o prazer e o poder se transformam em lesões corporais graves e
assassinatos.
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