No
final da postagem anterior, afirmei que a personalidade não muda. Isto suscitou
muita curiosidade e dúvida. Pois é, disse a vocês
que não era um assunto de fácil entendimento. Mas, vamos lá. Para melhor entendimento, tomo
como exemplo um bloco de argila.
Quem
já trabalhou com esse material sabe que é preciso preparar o barro antes de
tentar moldar alguma coisa. Por isso a amaciamos bem. Assim também é a nossa
personalidade. A infância é um tempo de preparo. Por isso, segundo a Psicologia
Analítica (de Carl Gustav Jung) a personalidade não existe do nascimento até
mais ou menos 7 anos.
Nesse
tempo de preparação, a criança precisa: se ver como pessoa, saber que está
neste mundo, tomar conhecimento de que está rodeada de pessoas, que precisa se
relacionar com elas. Essa preparação se dá pela observação e imitação dos
adultos à sua volta. Daí a importância da educação familiar.
Voltemos a argila. Durante o amaciamento do barro podemos encontrar algumas
pedrinhas. Precisamos retirá-las para que a peça a ser construída fique
perfeita. Jung já dizia que as crianças serão, no futuro, o que os pais ensinaram
neste período de preparação.
Sabem
quando fazemos uma coisa e, lá do fundo dos nossos pensamentos (consciência), vem
uma voz (que lembra a de nossa mãe) dizendo que deveríamos fazer de outro modo?
Essas vozes interiores nada mais são do que as regras e valores implantados no
seio familiar por meio da educação recebida.
Observando-se
o comportamento das crianças, podemos notar que alguns comportamentos devem ser
retirados e, outros, devem ser cultivados e incentivados. Daí a importância das
regras, dos limites e dos valores, sociais, pois são eles que nortearão a vida,
os relacionamentos e os comportamentos futuros.
Quando
a educação familiar é muito rigorosa, essas vozes são mais fortes e mais
presentes em tudo o que fazemos e, muitas vezes, causam impedimentos. Se, ao
contrário, a educação for muito liberal, sem regras e sem valores morais claros,
essas vozes quase não existem, são fracas e pouco frequentes e, na maioria das
vezes, dão vazão a comportamentos instintivos.
A
argila já está amaciada e pronta. A argila ainda está sem forma e começamos a
modelar. É, portanto, tempo de construir. Uma construção que não deve ser apressada, bem
escolhida e muito observada em todos os detalhes. Um deslize pequeno ou grande
pode comprometer o resultado final.
A
partir dos 7 anos, cada um de nós começa a construir a sua personalidade com
base no modo como foi preparado (aprendizagens). E, dependendo desses
ensinamentos e aprendizagens, vamos construindo lenta e cuidadosamente com o que
foi consolidado durante a infância. Leva-se, portanto, de 8 a 10 anos nesse
processo de construção.
Durante
esse tempo, chamamos de “tendências” e não de personalidade. E como tudo na
vida se dá por meio de processos, muita coisa pode ter arestas aparadas, substituídas
ou agregadas por meio de novas aprendizagens. E isto acontece por meio da
pressão social, que é grande e implacável.
Todos
os comportamentos humanos são passíveis de consequências. Comportamentos
positivos têm como consequência a aceitação e a valorização. Comportamentos
negativos têm sanções e repressões como consequência. E, por isso mesmo, as
pressões sociais causam dor e sofrimento. Evitá-los é prorrogativa de cada um.
A
dor e sofrimento tem como finalidade abreviar o tempo de tomada de consciência
(conhecimento) dos comportamentos negativos ou não aceitos socialmente. Mas,
depende de cada um querer ou não, influenciado por agentes psicológicos como a
carga emocional, os complexos, egos inflados presentes no momento de uma
situação. Por exemplo: se bato a cabeça na parede sinto dor e sofro. Continuar
batendo ou parar depende de minha vontade ou do meu objetivo.
Voltando
a argila, a peça foi modelada. Precisou de alguns ajustes, mas, agora, começa o
tempo de secagem. Um tempo variável, pois depende das condições do tempo ou do
meu forno. E depois de seca, não dá mais para voltar a trás. Já não a chamamos
mais de argila, mas de escultura, panela, vaso ou o que eu tiver feito dela. E
ficará dessa forma até que se quebre. Mas, ainda se pode dar um
polimento.
Assim,
também acontece com nossas tendências. Aos poucos, (mais ou menos de 3 a 5
anos) vai se consolidando (secando) e, depois de seca, não mudança mais. Ficará
assim até a morte. Da mesma forma, nossa personalidade também pode ter alguns
polimentos.
E os estudos de casos comprovam isso. Exemplifico:
Um sujeito que na infância não teve sua agressividade coibida, conservada na
adolescência e consolidada na juventude, ainda pode alterar (polir) seu comportamento.
Digo “comportamento” e não personalidade.
Diante
de uma situação qualquer que lhe é desfavorável, esse sujeito pode se valer de
uma estratégia social: o controle consciente. Exemplifico: Diante de uma bronca
do chefe no trabalho, ele pode vontade de voar no pescoço do outro
(personalidade agressiva), mas por depender do salário para seu sustento
pessoal e familiar, não o faz. Se controla assumindo um comportamento passivo. Ouve
a bronca calado, mas assim que possível, extravasa chutando a primeira lata de
lixo que encontra. É o famoso “engolir sapos”. Percebam que a personalidade agressiva
continua lá, mas mudou o comportamento no momento crucial, como se vestisse uma
camuflagem de bonzinho e passivo para livrar-se de uma consequência desastrosa.
Espero que tenha ficado claro, agora.
Muito bom mesmo, esclarecedor também. Você é genial!
ResponderExcluirEntão, a natureza ruim está lá na pessoa a tendência para o mal, mas pode ser transformada pelas interferências. Concluo que Deus pode ser a interferência para neutralizar o que mau no homem e deixar que ele manifeste conduta virtuosa, louvável.
Fantástico!
Sim, lá na essência de todos os humanos, habitam o bem e o mal que podem conviver harmonicamente ou não. Quando o mal sobrepuja o bem, somos terríveis. Mas, quando o contrário acontece, não somos bonzinhos sempre. Ás vezes, explodimos com veemência o que chamamos de "perder a paciência". Cedemos ao mal, só um pouco,para que ele possa descarregar energias acumuladas e em seguida, voltamos ao nosso estágio anterior. Deus, religião, controle e pressão social, regras, limites e valores nos auxiliam a manter o bem e mal em equilíbrio. Somos seres duais, ou seja, estamos sempre escolhendo entre duas alternativas: gosto e não gosto, faço ou não faço tal coisa, compro ou não compro etc.. Sempre escolhendo o que o melhor em cada momento e em cada situação. bjs.
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