Nos
últimos tempos muito se tem estudado, debatido e observado por ângulos variados
as relações do trabalho e o impacto que causa nas estruturas sociais, na construção
da identidade laborial e na vida dos seres humanos.
A
revolução industrial trouxe mudanças profundas nas estruturas da hierarquia
social, nos mecanismos de segregação dos indivíduos e no aspecto cultural.
No
século XVIII, as sociedades tinham suas economias baseadas no trabalho agrário
e as relações do trabalho eram baseadas na obediência aos mais velhos. Era com
os adultos que as novas gerações aprendiam seu ofício e formavam uma relação
que facilitava a identidade laborial ligada á terra de onde os sujeitos tiravam
o sustento para si e para seus familiares. Trabalhavam nesse ofício sem que
houvesse pagamento por seu trabalho, quando precisavam de algum bem de consumo
praticavam o escambo e dessa maneira, eram poucas as expectativas de ascensão
social.
Com
chegada das primeiras indústrias manufatureiras houve uma mudança completa e
profunda na estrutura social. As relações entre os empregados e os empregadores
passaram a ser mais distantes e impessoais. A produção era o foco principal e o
resultado final dependia do esforço conjunto de todos os trabalhadores. Isto
porque cada trabalhador realizava uma parte do trabalho para que outro
trabalhador fizesse outra. Essa forma de trabalhar não permitia que os trabalhadores
acompanhassem o processo completo do produto até chegar no produto final. No
entanto, recebiam um salário por esse esforço e embora pudessem melhorar sua
condição de vida e mudarem seu status social (grande propaganda da
industrialização), era ainda coisa para poucos.
Mais
recentemente, nas décadas finais do século XX, chega a “globalização” e alterar
tudo novamente. A globalização é um fenômeno dos mais significativos e
importantes que já se viu na história da humanidade. Ela trouxe consigo o
encurtamento das distâncias e a possibilidade de vivenciar os acontecimentos em
tempo real. As relações ficaram cada vez mais íntimas e, por isso, prolonga o
período de trabalho, modifica a maneira de exercê-lo. O local onde se realiza o
trabalho também não está mais restrito a um determinado lugar (fábrica ou
escritório) mas podemos trabalhar na rua, no ônibus ou em sua própria casa. O
trabalho não está mais restrito a um determinado número de horas, pois o que
vale hoje é o quanto o trabalhador produz. A competitividade aumentou
significativamente e tornou-se inerente ao resultado final e ao mercado de
trabalho.
Toda
essa flexibilidade tem se tornado uma exigência crescente do mercado de
trabalho. O trabalho flexível exige profissionais com formação especializadas e
com aperfeiçoamentos constantes. E aí está uma nova forma de segregação social.
A mão de obra especializada exige um alto investimento em cursos de formação e
de especializações (que geralmente são caros), além do tempo disponível (porque
esses cursos requerem processos de longo prazo). As pessoas das camadas sociais
mais baixas não possuem recursos financeiros para custear seus estudos, nem
tempo disponível para cursá-los, como exige o mercado de trabalho. Já os que se
arriscam, conseguem galgar novos degraus na hierarquia socioeconômica.
O
avanço tecnológico trouxe um novo modo de segregação social: a automatização na
produção dos bens de consumo. Por automatização entende-se a aplicação de
técnicas, softwares e/ou equipamentos específicos usados em determinadas
máquinas com o objetivo de aumentar a eficiência e maximizar a produção com o
menor consumo de energia ou de matéria-prima, com menor emissão de resíduos de
qualquer espécie, melhores condições de segurança (material, humana ou
informação) e reduzir o esforço e a interferência humana sobre os processos ou
máquinas. A automatização é um avanço da mecanização, onde o trabalhador
manipulava as máquinas para realizar seu trabalho.
A
automatização é sem dúvida um investimento muito caro para as indústrias. No
entanto, se torna um investimento viável em relação ao aumento da produção. Por
outro lado, a empresa evita os custos com a mão de obra humana, já que uma
minoria é especializada na operação dessas máquinas. Daí o aumento das
demissões e as faltas de vagas.
A
competitividade não se dá apenas entre os trabalhadores. As indústrias competem
entre si, porque querem estar no topo dos rankings mundiais. Elas estão mais preocupadas
com os lucros que podem obter do que com o bem-estar dos seus empregados. Mas
a competitividade não para por aí.
Os países também competem uns contra os
outros. Os países que possuem profissionais mais qualificados e indústrias mais
automatizadas são os mais produtivos e ricos. Enquanto isso, os mais pobres são
os que tem pouco ou não possuem condições de ter. E são os países em que seus
trabalhadores tem as piores condições de estudo e de trabalho.
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