OBJETIVO DO BLOG

Este blog tem por objetivo orientar os pais que possuem filhos entrando ou vivenciando a adolescência. De orientar também os professores que lidam com eles diariamente,para que possam compreender suas dificuldades e ajudá-los ainda mais, pois, esta é uma fase complicada na vida dos jovens e, muitos pais e professores não sabem como agir diante de certas atitudes desses jovens. Pais e professores encontrarão aqui informações de médicos, psicólogos e teóricos sobre a educação dos adolescentes.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

E A PERSONALIDADE ADOECE


Como seres humanos, somos o resultado da genética, das nossas aprendizagens e das nossas emoções. Tudo preparado na infância, construído na adolescência e consolidado na juventude, formando o que chamamos de personalidade.

Não somos perfeitos. Temos qualidades e defeitos, mostramos uma parte do que somos e escondemos outras. E é no equilíbrio entre nossos defeitos e qualidades que mostramos nosso jeito de ser através dos nossos comportamentos.

Assim, podemos explodir veementemente com alguém em casa ou no trabalho. Podemos reclamar, ter medo, tentar evitar as doenças e tomar um série de medicamentos por conta própria. Temos manias, fazemos coisas sistemáticas ou metódicas. Cismamos com alguém ou com alguma coisa e ficamos desconfiados. Choramos quando um filme ou uma situação nos emociona e, até mesmo, dramatizamos algumas situações.

Uma personalidade sadia é aquela em compreendemos que temos altos e baixos, que somos bons, mas que o mal coexiste nessa bondade. É assim que somos, que vemos os outros e o mundo. Compreendemos que esse é o nosso jeito de ser e nos sentimos bem em ser como somos. Não há sofrimento, nem fazemos os outros sofrerem. E se dizem que há algo errado, podemos melhorar nossos comportamentos através do controle.

Mas, existem pessoas que persistem num ou num conjunto de comportamentos. Há pessoas que persistem na explosividade, na dramaticidade, na emotividade, nas cismas, nas manias, na sistemática e na metódica. Mas, sentem-se incomodadas com isso e incomodam os outros. Sofrem com esse incomodo e, as pessoas à sua volta sofrem também. Evidentemente, a convivência com essas pessoas é muito difícil.

Sofrem porque não desejam “ser” assim, mas “estão” assim, porque a personalidade adoeceu. E esse adoecer modifica o funcionamento do sujeito afetando todos os aspectos de sua vida (família, escola, trabalho, social).

Quando e porque ninguém sabe ao certo. O que se tem notícia é que fatores genéticos, biológico, psicológicos e ambientais interferem nesse adoecer. Como fator genético, certos sujeitos nascem com uma predisposição para esse adoecimento. Como fator biológico, estão as infecções cerebrais e os traumatismos cranianos colaboram para as mudanças no comportamento. Como fator psicológico, encontram-se o ego frágil e os transtornos emocionais que falam bem de perto ao modo de perceber e sentir. Já para o ambiental, a dependência química em todas as suas formas.

Quanto as mudanças no comportamento, são estranhos, incômodos, persistentes, extremados e dolorosos, presentes em várias situações pessoais e sociais do cotidiano. Comportamentos esses que constituem um padrão entranhado na pessoa que o fazem perceber, pensar, sentir e se relacionar de um modo diferente consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Essa alteração de comportamento podem ser leves, moderadas e graves.


Portanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o CID 10 decidiu nomear essas alterações comportamentais como “TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE”.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

SOBRE A IMUTABILIDADE DA PERSONALIDADE

No final da postagem anterior, afirmei que a personalidade não muda. Isto suscitou muita curiosidade e dúvida.  Pois é, disse a vocês que não era um assunto de fácil entendimento. Mas, vamos lá. Para melhor entendimento, tomo como exemplo um bloco de argila.

Quem já trabalhou com esse material sabe que é preciso preparar o barro antes de tentar moldar alguma coisa. Por isso a amaciamos bem. Assim também é a nossa personalidade. A infância é um tempo de preparo. Por isso, segundo a Psicologia Analítica (de Carl Gustav Jung) a personalidade não existe do nascimento até mais ou menos 7 anos.

Nesse tempo de preparação, a criança precisa: se ver como pessoa, saber que está neste mundo, tomar conhecimento de que está rodeada de pessoas, que precisa se relacionar com elas. Essa preparação se dá pela observação e imitação dos adultos à sua volta. Daí a importância da educação familiar.


Voltemos a argila. Durante o amaciamento do barro podemos encontrar algumas pedrinhas. Precisamos retirá-las para que a peça a ser construída fique perfeita. Jung já dizia que as crianças serão, no futuro, o que os pais ensinaram neste período de preparação.

Sabem quando fazemos uma coisa e, lá do fundo dos nossos pensamentos (consciência), vem uma voz (que lembra a de nossa mãe) dizendo que deveríamos fazer de outro modo? Essas vozes interiores nada mais são do que as regras e valores implantados no seio familiar por meio da educação recebida.

Observando-se o comportamento das crianças, podemos notar que alguns comportamentos devem ser retirados e, outros, devem ser cultivados e incentivados. Daí a importância das regras, dos limites e dos valores, sociais, pois são eles que nortearão a vida, os relacionamentos e os comportamentos futuros.

Quando a educação familiar é muito rigorosa, essas vozes são mais fortes e mais presentes em tudo o que fazemos e, muitas vezes, causam impedimentos. Se, ao contrário, a educação for muito liberal, sem regras e sem valores morais claros, essas vozes quase não existem, são fracas e pouco frequentes e, na maioria das vezes, dão vazão a comportamentos instintivos.


A argila já está amaciada e pronta. A argila ainda está sem forma e começamos a modelar. É, portanto, tempo de construir.  Uma construção que não deve ser apressada, bem escolhida e muito observada em todos os detalhes. Um deslize pequeno ou grande pode comprometer o resultado final.

A partir dos 7 anos, cada um de nós começa a construir a sua personalidade com base no modo como foi preparado (aprendizagens). E, dependendo desses ensinamentos e aprendizagens, vamos construindo lenta e cuidadosamente com o que foi consolidado durante a infância. Leva-se, portanto, de 8 a 10 anos nesse processo de construção.

Durante esse tempo, chamamos de “tendências” e não de personalidade. E como tudo na vida se dá por meio de processos, muita coisa pode ter arestas aparadas, substituídas ou agregadas por meio de novas aprendizagens. E isto acontece por meio da pressão social, que é grande e implacável.

Todos os comportamentos humanos são passíveis de consequências. Comportamentos positivos têm como consequência a aceitação e a valorização. Comportamentos negativos têm sanções e repressões como consequência. E, por isso mesmo, as pressões sociais causam dor e sofrimento. Evitá-los é prorrogativa de cada um.

A dor e sofrimento tem como finalidade abreviar o tempo de tomada de consciência (conhecimento) dos comportamentos negativos ou não aceitos socialmente. Mas, depende de cada um querer ou não, influenciado por agentes psicológicos como a carga emocional, os complexos, egos inflados presentes no momento de uma situação. Por exemplo: se bato a cabeça na parede sinto dor e sofro. Continuar batendo ou parar depende de minha vontade ou do meu objetivo.


Voltando a argila, a peça foi modelada. Precisou de alguns ajustes, mas, agora, começa o tempo de secagem. Um tempo variável, pois depende das condições do tempo ou do meu forno. E depois de seca, não dá mais para voltar a trás. Já não a chamamos mais de argila, mas de escultura, panela, vaso ou o que eu tiver feito dela. E ficará dessa forma até que se quebre. Mas, ainda se pode dar um polimento.

Assim, também acontece com nossas tendências. Aos poucos, (mais ou menos de 3 a 5 anos) vai se consolidando (secando) e, depois de seca, não mudança mais. Ficará assim até a morte. Da mesma forma, nossa personalidade também pode ter alguns polimentos. 

E os estudos de casos comprovam isso. Exemplifico: Um sujeito que na infância não teve sua agressividade coibida, conservada na adolescência e consolidada na juventude, ainda pode alterar (polir) seu comportamento. Digo “comportamento” e não personalidade.

Diante de uma situação qualquer que lhe é desfavorável, esse sujeito pode se valer de uma estratégia social: o controle consciente. Exemplifico: Diante de uma bronca do chefe no trabalho, ele pode vontade de voar no pescoço do outro (personalidade agressiva), mas por depender do salário para seu sustento pessoal e familiar, não o faz. Se controla assumindo um comportamento passivo. Ouve a bronca calado, mas assim que possível, extravasa chutando a primeira lata de lixo que encontra. É o famoso “engolir sapos”. Percebam que a personalidade agressiva continua lá, mas mudou o comportamento no momento crucial, como se vestisse uma camuflagem de bonzinho e passivo para livrar-se de uma consequência desastrosa.

Espero que tenha ficado claro, agora.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A PERSONALIDADE PODE MUDAR?

Falar sobre este assunto é bastante complicado. Teria que tratar com termos da psicologia e, poucos poderiam entender. Portanto, tentarei traduzir em linguagem bem simples para que todos entendam. Ok?


Imagine abrir uma caixa com algumas coisas dentro. Mas, não podemos vê-las porque são invisíveis aos nossos olhos, no entanto, sabemos que estão lá. Assim é o nosso corpo, um invólucro que contém a mente e o psiquismo. Duas coisas contidas no corpo, que não podem ser vistas, mas que estão lá.

Estas duas coisas influenciam os atos que praticamos a todo instante. Na mente estão a razão com suas análises, conceitos, julgamentos e a tomada de decisão no cotidiano. A mente é o resultado do funcionamento cerebral, portanto, mais concreto. Já no psiquismo estão coisas mais subjetivas: como a consciência e o inconsciente quer pessoal, quer coletivo.

A consciência é o que sabemos de nós. Como somos, do que gostamos, do que detestamos, das coisas que nos incomoda, que nos dá prazer, do que e como pensamos, das decisões tomadas, as lembranças do que vivemos e experimentamos etc.

No inconsciente pessoal, guardamos o que não foi assim tão bom, que nos desagradou de alguma forma e que nos fizeram sofrer. Esse guardar é chamado de reprimir. A maioria dessas coisas ficam esquecidas. Porém, algumas delas, as mais doídas, essas não esquecemos e, volta e meia, insistem em nos atormentar por meio das lembranças.

No inconsciente coletivo estão imagem ancestrais da caminhada da humanidade até o momento. Imagine um papel com um monte de pequenos pontos pretos espalhados numa folha. Imagine ainda que cada pontinhos  tem uma força emocional (energia) e que age como se tivessem vida própria. Ou seja, tem seu próprio jeito de ser, de ver a vida, de se comportar, de pensar, de sentir, de agir diferentes uns dos outros. 


Chamaremos a cada um desses pedacinhos de papel de “COMPLEXOS”. Os complexos mais distantes não nos incomodam. Mas, quando um deles se aproxima da consciência (ponto maior ao centro) ganha mais energia, força sua entrada, mas não conseguem entrar. Então, exerce sua influência.

A nossa personalidade é uma mistura de todas essas coisas da mente, da consciência e do inconsciente pessoal e coletivo misturados e nos influenciando a cada escolha e tomada de decisão no cotidiano. Como assim? Explico melhor:



 
Veja esta garrafa. Ela está enfeitada com pedacinhos de papel de todas as cores: pretos, marrons, vermelhos, vinho, verdes, laranjas, amarelos e brancos. Todos bem juntinhos e misturados. Depois de pronta, ficou com um visual bonito.

Assim é a personalidade. Formada de pequenos fragmentos (papéis) compostos por complexos (pretos), lembranças e experiências vividas (marrons), valores sociais e morais (vermelhos), valores pessoais e familiares (vinhos), regras sociais e familiares (verdes), conceitos políticos de relacionamento e modos de agir (laranjas), conceitos filosóficos e religiosos (amarelos), todos juntos, unidos, misturados e em harmonia.

Mas, na vida não é assim. Ninguém é perfeito. A harmonia é aparente, pois a todo instante temos que fazer escolhas e tomar decisões.  Estamos sempre entre duas forças opostas: o bem e o mal, o certo ou errado, fazer algo ou não fazer, dormir ou acordar, comprar ou não comprar, etc. Cada escolha e tomada de decisão tem uma consequência que pode ser boa ou ruim, levar a um ganho e perca, a um prazer ou dor.

Se a consciência estiver bem resolvida, amadurecida, integra e forte saberá decidir sempre pelo melhor, apesar da insistência dos complexos que atuam no sentido oposto. Podemos ficar confusos ou desorientados, mas ultrapassamos as barreiras e permanecemos firmes, pois tudo foi observado, analisado em todos os pontos de vista, julgado, escolhido e decidido.

Mas, se a personalidade não estiver bem resolvida, ainda instável e frágil, cedemos a influência dos complexos. A razão não tem a mesma força e agilidade para analisar e julgar de forma coerente, permanecendo confusa e desorientada e a tomada de decisão é equivocada, as ações decorrentes são instintivas e as consequências são nefastas, fazendo com que a consciência se dissocie, como se os pedacinhos de papel começassem a descolar e cair.

A personalidade de uma pessoa não muda. O que pode ocorrer é que os valores, os conceitos políticos, filosóficos e religiosos influenciados pela razão, imponha a essa pessoa um controle interno (autocontrole) diante de uma situação. Esse controle se torna consciente e ela passa a agir de um modo mais coerente e adequado dando a impressão de uma mudança. Mas, a mudança ocorreu na ação e não na personalidade.

Fonte:

JUNG, Carl G. o desenvolvimento da personalidade. RJ, Vozes,1986

STEIN,Murray. Jung:o mapa da alma –uma introdução. SP, Cultrix, 1998