OBJETIVO DO BLOG

Este blog tem por objetivo orientar os pais que possuem filhos entrando ou vivenciando a adolescência. De orientar também os professores que lidam com eles diariamente,para que possam compreender suas dificuldades e ajudá-los ainda mais, pois, esta é uma fase complicada na vida dos jovens e, muitos pais e professores não sabem como agir diante de certas atitudes desses jovens. Pais e professores encontrarão aqui informações de médicos, psicólogos e teóricos sobre a educação dos adolescentes.

quarta-feira, 26 de março de 2014

DEPENDÊNCIA x TRANSTORNO

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DEPENDENTE (III)




Suponhamos que, ao contrário do que afirmamos até aqui, uma criança cresceu ativa e com autonomia. Comportamentos estes que teve também na puberdade e boa parte da adolescência.  De repente, passa a ter um comportamento passivo, submisso, aderente, com dificuldades em tomar decisões banais e corriqueiras, tais como: se deve ou não levar o guarda-chuva num dia chuvoso, que roupa usar num dia como esse, ou ainda, se deve tomar sopa antes ou depois do prato principal.


Fica a espera que uma pessoa em especial (mãe, pai ou namorada) lhe diga a todo momento: o que deve fazer, com quem conversar, que amigos deve ter, que livros ler, que programas assistir na TV ,  que cursos deve fazer, em que escola deve estudar e assim por diante. E fica ansioso e angustiado quando as sugestões demoram e, mais ainda, quando não as obtém.

Apesar de ansioso e angustiado nunca se zanga quando a sugestão ou o apoio que necessita não chega. Ao contrário, mostra-se compreensivo e cordato. Isto porque teme perder o apoio, a atenção e os cuidados dessa pessoa ou de afastá-la de perto de si e, por isso, permite que ela dirija a sua vida.


Mas, porque isso acontece? Na maioria dos casos, esse comportamento surge de sentimentos de inferioridade, de incapacidade ou de inutilidade. Acha que os outros sabem mais e melhor e acredita que necessita dela pois perdeu a confiança em si mesmo na iniciação e realização de alguma tarefa, porque jamais conseguirá realizá-los sozinhos.

Assim, essa forma invasiva, estranha, incômoda é uma das formas mais evidentes do transtorno de personalidade dependente.


É evidente que uma pessoa, que vai da infância á juventude, impedida de realizar coisas próprias de cada idade tem grandes chances de vir a ter este transtorno, porque está sujeita a frustrações, a sentimentos de incapacidade e de pouca valia por muito tempo. Mas, nem sempre é assim. Muitos, ao chegar na vida adulta conseguem resistir e se libertarem do domínio dos pais. 

E a diferença entre um comportamento dependente e um transtorno de personalidade dependente" está justamente aí. O "transtorno de personalidade dependente" começa, exatamente, no final da adolescência e avança pela vida adulta.

quarta-feira, 19 de março de 2014

DEPENDÊNCIA NA PUBERDADE E NA ADOLESCÊNCIA

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DEPENDENTE II


As crianças que crescem com os pais fazendo tudo por elas, para elas e no lugar delas se acostumam com essa dependência. Até o início da puberdade, embora sofram porque gostariam de ter autonomia, é cômodo e fácil. Afinal, para que se preocupar se os pais fazem tudo o que ele(a) deveria fazer. Quem não gosta de facilidades?

Os pais também se acostumam. Para eles, a criança não tem idade e não crescem, por isso, continuam achando que continuam sendo os bebês de antes, que precisa ser protegido de tudo e de todos. E pensando desse modo, não medem esforços para atingir seus objetivos.


Pais e filhos ficam envolvidos numa rede invisível da qual não conseguem escapar. Uma rede complexa que envolve uma mistura de aspectos psicológicos e emocionais fazendo com que a razão seja posta de lado. As justificativas para a entrada e a manutenção nessa rede são: amor em demasia, sentimento de proteção extremada e desejo de fazer do filho(a) uma pessoa feliz. Ficam assoberbados com o trabalho fora (quando há) e dentro de casa e a tarefa com os filhos(as). Ficam cegos ao desenvolvimento do filho(a) e surdos a toda espécie de aconselhamento porque acreditam estar certos. E não percebem o desenvolvimento e a necessidade de cada fase pelas quais os filhos passam. O propósito inicial, o devotamento ao filho, a cegueira e surdez os fazem manter o comportamento na puberdade.


Mas, o corpo em crescimento e desenvolvimento psicológico e social gritam por autonomia. As transformações físicas que começam a aparecer geram novas necessidades.  Uma delas é a necessidade do grupo com pares da mesma idade. E para isso, é necessário um pequeno distanciamento do grupo familiar.

No fundo, os pais agem dessa forma porque não confiam em ninguém, nem em si mesmos, nem na educação que deram. Essa falta de confiança está ligada a sentimentos de posse e de amor extremado de um lado e o medo da perda e da rejeição pelo lado contrário. Esses sentimentos se misturam e produzem um pensamento complicado e inconsciente numa época em que os filhos, naturalmente, se afastam do grupo familiar para descobrir-se a si mesmos. E todos nós, seres humanos, passamos por isso.


Por isso, os outros (amigos, professores, escola) são sempre os vilões da história. Vilões que tentam tirar-lhes o filho amado e temem que se encantem ou se prendam a eles, deixando de amá-los. E, para vencerem essa luta, vale tudo para mantê-los junto a si. E cedem aos caprichos do filho. Matriculam em aulas de canto, dança, judô, karatê, natação etc. Mas o jovem começa tudo e desiste pouco depois.

É quando as brigas, as discussões, as rotulações e ameaças começam a aparecer.  De um lado, a cobrança exercida pelos pais quanto a responsabilidade dos trabalhos e das médias escolares. Por outro, como resposta, a indiferença e insensibilidade a esses apelos. É quando começam as rotulações de preguiçoso, relaxado, desleixado, incompetente, incapaz e tantos outros.


Mas, os jovens não são assim porque querem, mas porque foram levados a ser assim por meio de tantos impedimentos que aconteceram e continuam a acontecer. Não conhecem o que seja esforço pessoal porque nunca tiveram oportunidade de experimentá-lo. Não são responsáveis porque não a exercitaram. Não são solidários, não sensíveis ao próximo, e indiferentes a certos apelos porque nunca tiveram a oportunidade de experimentar e exercitar essas coisas. Como exigir deles algo da qual nunca teve experiência?

A cada nova discussão, confusão ou repreensão, o jovem entende como reafirmação de sua incapacidade, inutilidade e de pouca valia. E, se os pais achavam que os filhos seriam felizes, se enganaram. As constantes frustrações, indecisões, ansiedades, medos e insatisfações geram uma profunda tristeza e pensamentos negativos. E a primeira reação física é o apagamento do brilho do olhar.


Esta é uma época de construção da personalidade. E se os pais não acordarem e tomarem a decisão de mudar tudo, essa rede se manterá na adolescência, na juventude e vida adulta. E o adolescente deve ser muito forte emocional e psicologicamente para evitar que o transtorno de personalidade se instale.

sexta-feira, 7 de março de 2014

TRANSTORNO DE DEPENDÊNCIA (I)

Antes de falarmos do transtorno em si é preciso refletir um pouco sobre o que é dependência, como e porque se forma e quando se torna um transtorno.

Segundo os dicionários, o termo dependência significa “estar subordinado ou sujeito a outra pessoa”. Seu antônimo é “independência, autonomia, emancipação, autossuficiência”.


No início da vida e do desenvolvimento, todo ser humano passa por períodos de dependência. Após o nascimento, o bebê é totalmente dependente. Precisa dos adultos para que se alimente, para a higiene, para as trocas de fraldas, para um carinho ao adormecer e para que o levem de um lugar para outro.

Passados alguns meses, o bebê se vira no berço saindo da posição colocada pelos adultos. Este simples movimento nos mostra que a autonomia é inata nos seres humanos. Realizar coisas sozinho é sinal de que se desenvolvimento bem e de adquiriu uma certa maturidade.


Um pouco mais adiante, senta, engatinha, fica em pé e anda. Os adultos esperam ansiosos por estes momentos e, mesmo antes dessas conquistas, já nos estimulam bastante. Mas quando acontecem de fato, é uma festa com direito a beijos, abraços e muitos elogios.

Andar significa que a criança ganha autonomia para ir e vir dentro de um determinado espaço. E a partir daí, quantas coisas descobrem, experimentam e conhecem. Mas, andar é uma etapa. Muitas outras virão.


Em determinado momento, a criança deseja experimentar comer sozinha. Sem muita habilidade para levar a comida à boca, suja tudo a sua volta. E para evitar tanta sujeira, a mãe decide que é melhor continuar alimentando-a. Dessa forma, garante que a criança se alimente adequadamente, evita desperdício do alimento e trabalho redobrado. A criança chora, recusa a comida, faz birras. Mas, ainda tenta outras vezes. Diante do firme propósito materno de continuar alimentando-a, a criança cede.

Seguem-se outras situações para treino de habilidades e de aprendizado da autonomia ao longo do seu desenvolvimento e crescimento e, novamente, os impedimentos acontecem. O medo de que se machuquem, de que aconteça algo de ruim, a demora em realizar as tarefas que poderiam ser feitos rapidamente pelos adultos motivam esses impedimentos. As justificativas são as mais variadas: amor e proteção asseguram o topo da extensa lista de justificativas.
 

E assim, a cada novo impedimento a criança vai aumentando, renovando e reafirmando a sensação de ser incapaz de realizar coisas e tarefas sem a ajuda ou a supervisão de outra(s) pessoa(s). Mas, a natureza é sábia e garante a ela aprendizagens básicas para sua sobrevivência física e mental.

E ela cresce levando dentro de si a certeza de uma “incapacidade” que não é real, mas imposta pelos adultos. Seguem paralelamente sentimentos de pouca valia e de frustração intensa, medo de tudo o que é (ou acredita ser) novidade, ausência de iniciativas pessoais, sentimentos de insatisfação e de tristeza (muitas vezes, confundida com timidez) e submissão.


Na idade escolar encontram dificuldade em quase todas as disciplinas. Não entendem bem as regras e não se esforçam. Adoram fazer apenas o que é fácil. Ficam paralisadas ou evitam o que julgam ser difícil. Apresentam grande dificuldade em resolver problemas simples e práticos ou dos que exigem um raciocínio mais complexo. Não perguntam, não tiram dúvidas, evitam expor seus pensamento por sentirem-se envergonhadas. Apresentam dificuldade de manter a atenção e a concentração, acham que podem memorizar sem realizar os trabalhos e desconhecem qualquer tipo de esforço. Desconhecem o que seja responsabilidade.

Também são inadequadas socialmente.  Apresentam dificuldade de relacionamento, adaptação aos grupos que se formam e isolamento voluntário. Não sabem se colocar no lugar do outro ou reconhecer os sacrifícios que fazem, as dores ou incômodos que sentem. Acreditam que os adultos existem para servi-las, ampará-las e protegê-las. Quando isto não acontece, ficam tristes e infelizes porque não se sentem amados.
Estas crianças foram e continuam sendo vítimas de um tipo educacional equivocado. Porém, tudo pode ser revertido desde que os adultos mudem seu comportamento para com ela. Mas, a reabilitação não é simples nem rápida.


Muitas vezes, esta situação perdura durante a puberdade e a adolescência. Mas, este é assunto para a próxima postagem.