Sempre
que procuramos algum artigo sobre homossexualidade, encontramos duas versões: a
“técnica”, que define o que isso é e
a do “sofrimento dos pais” ao receber
a notícia de que o filho é gay. Porém, muito raramente, encontramos algum texto
que expresse claramente todo o processo pelo qual os adolescentes passam para
se descobrirem gays.
A
descoberta da sexualidade é um fato importante e marcante na vida de todo
adolescente. Essa descoberta ocorre
através de um processo longo de maturações fisiológicas, mentais e emocionais. Fisiológica
porque seus órgãos, embora estejam prontos, não entram em funcionamento e ficam
prontos de uma hora para outra. Mental, porque precisa se conhecer bem para
poder tomar consciência de que está num novo estágio de sua vida e criar uma
nova autoimagem. Essas maturações mexem com a maneira de se ver e de
compreender a vida e o mundo. As variações de humor na adolescência são prova
de como tudo isto mexe com o emocional nessa fase.
É
em meio a tudo isto que alguns jovens de ambos os sexos descobrem um fato novo
e estranho em suas vidas. Sentem-se atraídos sexualmente por
pessoas do seu próprio sexo e descobrem das mais variadas formas. E seja lá de que
forma for, o fato é que ficam muito assustados.
A
partir o susto inicial, a observação do comportamento dos amigos é inevitável. Percebem
os olhares que eles lançam para as meninas do grupo ou da classe, ouvem com
mais atenção as conversas nas rodinhas que promovem, observam as brincadeiras,
os trejeitos e as paqueras do grupo. Observa e faz comparações. É uma comparação
silenciosa, apavorante e secreta. Mas, é ela quem lhes dá a real dimensão de seus
sentimentos desejos e fantasias sexuais. Descobre que são realmente diferentes daquelas
que os amigos expressam. É quando o susto se transforma em pavor e medo do “ser
diferente”.
É
claro que ninguém quer isso para si. Quem quer andar na contramão da maioria? E
a primeira reação é a de negar para si mesmo o fato. Lutam ferrenhamente para
serem iguais aos companheiros. Algumas vezes, são mais radicais e impiedosos do
que os companheiros de turma nas brincadeiras, nas chacotas e injúrias dirigidas
a outros gays. Saem e ficam com várias meninas e tentam desesperadamente
encontrar o encantamento tão propagado pelos amigos heteros. Mas não consegue
porque tudo lhes soa falso. Nada o satisfaz.
A
segunda reação é a de reprimir ou suprimir esses os sentimentos, desejos e
fantasias. Ficam mais caseiros, não saem mais com os amigos, ficam absorvidos
pelos próprios pensamentos. Na escola, as notas despencam e as reclamações de
desatenção, falta de estudo e a da presença-ausente aumentam. Na verdade, estão
decidindo como lidar com a nova descoberta. A repressão dos desejos e das
fantasias se torna uma carga difícil de carregar porque o corpo reage insistindo
no oposto de suas tentativas. Procurar ajuda? Falar para alguém? Mas quem?
Sabem
que se contarem para um amigo, a novidade se espalhará como um rastilho de pólvora
e, em pouco tempo, a turma do grupo ou colégio toda ficará sabendo. E aí virão
as piadinhas, os olhares e risinhos, os cochichos, os comentários. Sabem que
serão discriminados ou rejeitados pelos amigos e pela sociedade. Que sofrerão preconceito.
Contar
para os pais? Imaginam a mãe chorando desesperada, a cara brava do pai, o
estranhamento dos irmãos... Sentem medo, culpa e muitas dúvidas com relação à
reação deles. Será que os continuarão amando e os protegendo como antes? Sentirão
vergonha? Deixarão de amar e os colocarão para fora de casa? E se isto
acontecer, o que farão? Para onde vão? E então, se atormentam com os próprios
pensamentos porque não queriam ser assim e causar sofrimento aos familiares.
A
terceira reação é descobrir onde tudo começou. A cabeça dá voltas e
reviravoltas na tentativa de lembranças da infância. E quando surgem algumas
imagens, notam que já naquela época, tinham comportamentos atípicos. E isto os
machuca ainda mais. Sentem-se como se fossem seres estranhos ou verdadeiras
aberrações da natureza. E o sofrimento se torna maior.
Uma
quarta reação é a de procurar modelos de conduta. A mídia e a internet geralmente,
são fonte de pesquisa. E o que encontram? Essas mídias, infelizmente, mostram os homossexuais
como bufões (palhaços). Figuras caricatas, de modos extravagantes e afeminados.
Não existem outros modelos mostrados. E a forma que alguns encontram é a adequação
ao modelo heterossexual.
A
descoberta, a diferença, o medo, a insegurança, a frustração de não
corresponder às suas próprias expectativas e da família, a culpa, o medo da
rejeição, da discriminação e do preconceito social rebaixam a autoestima desses
jovens que, por sua vez, colaboram para uma fragilidade emocional. Muitos, não
aguentam tanto sofrimento e tentam o suicídio.
Sobrevivendo
a isto, partem para a prática sexual com parceiros distantes dos grupos a que
pertencem, encontrados ao acaso ou não. Se essas experiências forem positivas e
satisfatórias, a construção de sua autoimagem se dará de forma mais saudável e os
ajudará a assumir sua homossexualidade.
A
aceitação da homossexualidade vem aos poucos.
Mas garante que sua orientação sexual se
integre e se consolide. Só então estará pronto para revelar aos familiares que
é homossexual. Se
forem negativas e frustrantes tendem ao isolamento, a sublimação dos sentimentos e desejos e
guardam para si todo esse sofrimento.