TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DEPENDENTE II
As
crianças que crescem com os pais fazendo tudo por elas, para elas e no lugar
delas se acostumam com essa dependência. Até o início da puberdade, embora
sofram porque gostariam de ter autonomia, é cômodo e fácil. Afinal, para que se
preocupar se os pais fazem tudo o que ele(a) deveria fazer. Quem não gosta de
facilidades?
Os
pais também se acostumam. Para eles, a criança não tem idade e não crescem, por
isso, continuam achando que continuam sendo os bebês de antes, que precisa ser
protegido de tudo e de todos. E pensando desse modo, não medem esforços para
atingir seus objetivos.
Pais
e filhos ficam envolvidos numa rede invisível da qual não conseguem escapar.
Uma rede complexa que envolve uma mistura de aspectos psicológicos e emocionais
fazendo com que a razão seja posta de lado. As justificativas para a entrada e
a manutenção nessa rede são: amor em demasia, sentimento de proteção extremada
e desejo de fazer do filho(a) uma pessoa feliz. Ficam assoberbados com o
trabalho fora (quando há) e dentro de casa e a tarefa com os filhos(as). Ficam
cegos ao desenvolvimento do filho(a) e surdos a toda espécie de aconselhamento
porque acreditam estar certos. E não percebem o desenvolvimento e a necessidade
de cada fase pelas quais os filhos passam. O propósito inicial, o devotamento
ao filho, a cegueira e surdez os fazem manter o comportamento na puberdade.
Mas,
o corpo em crescimento e desenvolvimento psicológico e social gritam por
autonomia. As transformações físicas que começam a aparecer geram novas
necessidades. Uma delas é a necessidade
do grupo com pares da mesma idade. E para isso, é necessário um pequeno
distanciamento do grupo familiar.
No
fundo, os pais agem dessa forma porque não confiam em ninguém, nem em si
mesmos, nem na educação que deram. Essa falta de confiança está ligada a
sentimentos de posse e de amor extremado de um lado e o medo da perda e da
rejeição pelo lado contrário. Esses sentimentos se misturam e produzem um
pensamento complicado e inconsciente numa época em que os filhos, naturalmente,
se afastam do grupo familiar para descobrir-se a si mesmos. E todos nós, seres
humanos, passamos por isso.
Por
isso, os outros (amigos, professores, escola) são sempre os vilões da história.
Vilões que tentam tirar-lhes o filho amado e temem que se encantem ou se
prendam a eles, deixando de amá-los. E, para vencerem essa luta, vale tudo para
mantê-los junto a si. E cedem aos caprichos do filho. Matriculam em aulas de
canto, dança, judô, karatê, natação etc. Mas o jovem começa tudo e desiste
pouco depois.
É
quando as brigas, as discussões, as rotulações e ameaças começam a
aparecer. De um lado, a cobrança
exercida pelos pais quanto a responsabilidade dos trabalhos e das médias
escolares. Por outro, como resposta, a indiferença e insensibilidade a esses
apelos. É quando começam as rotulações de preguiçoso, relaxado, desleixado,
incompetente, incapaz e tantos outros.
Mas,
os jovens não são assim porque querem, mas porque foram levados a ser assim por
meio de tantos impedimentos que aconteceram e continuam a acontecer. Não
conhecem o que seja esforço pessoal porque nunca tiveram oportunidade de
experimentá-lo. Não são responsáveis porque não a exercitaram. Não são
solidários, não sensíveis ao próximo, e indiferentes a certos apelos porque
nunca tiveram a oportunidade de experimentar e exercitar essas coisas. Como
exigir deles algo da qual nunca teve experiência?
A
cada nova discussão, confusão ou repreensão, o jovem entende como reafirmação
de sua incapacidade, inutilidade e de pouca valia. E, se os pais achavam que os
filhos seriam felizes, se enganaram. As constantes frustrações, indecisões,
ansiedades, medos e insatisfações geram uma profunda tristeza e pensamentos
negativos. E a primeira reação física é o apagamento do brilho do olhar.
Esta
é uma época de construção da personalidade. E se os pais não acordarem e
tomarem a decisão de mudar tudo, essa rede se manterá na adolescência, na
juventude e vida adulta. E
o adolescente deve ser muito forte emocional e psicologicamente para evitar que
o transtorno de personalidade se instale.
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